segunda-feira, 24 de outubro de 2011

CIO



                                                                                      Lucian Freud
                                                                                             

           A periodicidade das visitas foi domesticando os instintos. Seu corpo já o aguardava, sabia quando ligaria. No espaço exíguo do cio, semanalmente, sujeitava-se ao corpo dele, seco e blindado.
           O desejo linear daquele homem era um enigma que a desafiava. Nada do que ela fizesse modificava a intensidade constante e gélida dos encontros. Os corpos eram seus limites.
           Sem questionar, sem cobrar, o que ela recebia eram trinta minutos de um prazer ritualizado. Não conhecia o gosto de sua boca, meramente o do corpo. Por um longo tempo ela o quis deste jeito, sem perceber, suas veias foram se esvaziando e resfriando.
           Contagiada pelo frio, ele não mais era um mistério. Tornaram-se iguais. Petrificada, o matou. Não reconheceu a diferença entre o cadáver e o corpo vivo. O sangue voltou a circular quente.