quarta-feira, 1 de maio de 2013

REFLEXÕES SOBRE O AMOR - I





      

      Dando início ao projeto de tecer reflexões sobre o tema  Amor, introduzo algumas questões para serem pensadas e conversadas.
      Primeiramente saliento que ninguém sabe nada sobre o amor. Não existe especialista que poderia explicá-lo. É um grande mistério que existe desde os primórdios da humanidade. Por ser um fenômeno sem nenhuma objetividade, a ciência não se ocupa dele, nos restando apenas refletir sobre suas manifestações na literatura, poesia, história e filosofia. Meu convite é um pensar sobre o amor/paixão excluindo os amores fraternais, parentais, etc. 
      O amor é formado pelo desejo, pelo medo e por nossas fantasias. O amor deseja o que não possui e deseja não perder o que possui. Ele tem a marca da nossa história, do percurso de nossa vida. De alguma forma é também, o amor, um trabalho mental. É nossa mente que constrói o fascínio pelo objeto amado. Nos  homens, sabe-se que o desejo desperta, na maioria das vezes, através do olhar.  Já na mulher é um pouco mais complicado. Para elas, o amor está conectado muito mais com seu mundo concreto, enquanto para os homens com seu mundo de sonho. Segundo Isabel Allende, o ponto G do homem é nos olhos, na mulher é nos ouvidos. As diferentes formas de amar entre homens e mulheres será mais aprofundada em um próximo post. Exemplifico a vivência feminina mais concreta do amor através de uma cena do filme Closer (2004), de Mikel Nichols, onde Alice (Natalie Portmann), questiona Dan (Jude Law):
     
       " Onde está o amor? Eu não posso vê-lo, não posso tocá-lo, não posso senti-lo, não posso ouvi-lo. Eu posso ouvir algumas palavras, mas não posso fazer nada com suas palavras fáceis..  "
  
      Como provar o amor? O amor precisa de provas? Evidente que sim.  Não tocamos o amor, não vemos o amor. Sentimos apenas aquilo que está dentro de nós, ou aquilo que imaginamos. Não podemos sentir o sentimento do outro. Portanto, como saber se somos amados?  São demonstrações concretas que nos convencem e que alimentam nossa esperança. Quando acaba a esperança, acaba o amor. Além de palavras, atitudes. Amar é lançar-se ao outro, lançar-se simbolicamente e concretamente. Dar-se. Se não for assim, não passa de um amor narcísico, onde  a pessoa aprisiona o amor a si própria. Quem espera o momento certo para demonstrar o amor, corre o risco de perdê-lo.
    
     "Se sou amado,
     mais correspondo ao amor.
     
     Se sou esquecido
     devo esquecer também.
     Pois amor é feito de espelho:
     tem que ter reflexo."

                 Pablo Neruda   

          
     Contudo, existe um equilíbrio instável que reside em não se entregar totalmente, ao mesmo tempo em que não se pode deixar de se entregar. O mistério é um outro grande tempero do amor. O desvelamento completo do ser amado é o antídoto para o desinteresse.  Poderíamos pensar que seria este um dos grandes problema dos casamentos, onde o convívio diário esgota o mistério e as surpresas, grandes poções mágicas da paixão. Um outro problema que o casamento traz aos amantes, é o compromisso. Amor ama liberdade, necessita de ar e espaço para sobreviver. A rotina paralisa, retira o movimento que impele o desejo. No século XVIII era praxe ambos cônjuges terem seus amantes, uma vez que os casamentos eram baseados em compromissos de ordem financeira e familiar, destino comum para os casamentos atuais também. Agora, a diferença é a hipocrisia que impera dentro das relações.
     Não existe um modelo ideal de amor. Amamos como conseguimos e como aprendemos a amar. E vamos aprendendo e desaprendendo ao longo de nossas vidas. A palavra de ordem da nossa contemporaneidade é "ficar". E isto não é amor? Porque não? Se analisarmos o discurso amoroso no decorrer da história, perceberemos grandes modificações nas suas manifestações. Cada época secreta suas próprias utopias e ilusões amorosas. No momento atual existe uma grande diversificação e possibilidades. Qualquer forma de paixão é possível. Não existe fórmula e nem garantias. Apenas o desejo de duas pessoas ficarem juntas e extraírem deste momento o máximo de prazer possível, prazer de uma forma ampla. O amor é invenção. O amor é criação. 
  
    ARTE DE AMAR

 "Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
 A alma é que estraga o amor.
 Só em Deus ela pode encontrar satisfação. 
 Não noutra alma. Só em Deus - ou fora do mundo. 
 As almas são incomunicáveis. 
 Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo. 
 Porque os corpos se entendem, mas as almas não."

 Manuel Bandeira

     

segunda-feira, 22 de abril de 2013

E por falar em amor...


Estudando sobre as origens do amor na história da civilização , retorno ao blog com reflexões e poemas sobre amor, paixão e desejo.
Um soneto Nerudiano para iniciar.

                                                                            O Beijo- Auguste Rodin


Soneto XVII



No te amo como si fueras rosa de sal, topacio 
o flecha de claveles que propagan el fuego: 
te amo como se aman ciertas cosas oscuras, 
secretamente, entre la sombra y el alma. 

Te amo como la planta que no florece y lleva 
dentro de sí, escondida, la luz de aquellas flores, 
y gracias a tu amor vive oscuro en mi cuerpo 
el apretado aroma que ascendió de la tierra. 

Te amo sin saber cómo, ni cuándo, ni de dónde, 
te amo directamente sin problemas ni orgullo: 
así te amo porque no sé amar de otra manera, 

sino así de este modo en que no soy ni eres, 
tan cerca que tu mano sobre mi pecho es mía, 
tan cerca que se cierran tus ojos con mi sueño.