Dando início ao projeto de tecer reflexões sobre o tema Amor, introduzo algumas questões para serem pensadas e conversadas.
Primeiramente saliento que ninguém sabe nada sobre o amor. Não existe especialista que poderia explicá-lo. É um grande mistério que existe desde os primórdios da humanidade. Por ser um fenômeno sem nenhuma objetividade, a ciência não se ocupa dele, nos restando apenas refletir sobre suas manifestações na literatura, poesia, história e filosofia. Meu convite é um pensar sobre o amor/paixão excluindo os amores fraternais, parentais, etc.
O amor é formado pelo desejo, pelo medo e por nossas fantasias. O amor deseja o que não possui e deseja não perder o que possui. Ele tem a marca da nossa história, do percurso de nossa vida. De alguma forma é também, o amor, um trabalho mental. É nossa mente que constrói o fascínio pelo objeto amado. Nos homens, sabe-se que o desejo desperta, na maioria das vezes, através do olhar. Já na mulher é um pouco mais complicado. Para elas, o amor está conectado muito mais com seu mundo concreto, enquanto para os homens com seu mundo de sonho. Segundo Isabel Allende, o ponto G do homem é nos olhos, na mulher é nos ouvidos. As diferentes formas de amar entre homens e mulheres será mais aprofundada em um próximo post. Exemplifico a vivência feminina mais concreta do amor através de uma cena do filme Closer (2004), de Mikel Nichols, onde Alice (Natalie Portmann), questiona Dan (Jude Law):
" Onde está o amor? Eu não posso vê-lo, não posso tocá-lo, não posso senti-lo, não posso ouvi-lo. Eu posso ouvir algumas palavras, mas não posso fazer nada com suas palavras fáceis.. "
Como provar o amor? O amor precisa de provas? Evidente que sim. Não tocamos o amor, não vemos o amor. Sentimos apenas aquilo que está dentro de nós, ou aquilo que imaginamos. Não podemos sentir o sentimento do outro. Portanto, como saber se somos amados? São demonstrações concretas que nos convencem e que alimentam nossa esperança. Quando acaba a esperança, acaba o amor. Além de palavras, atitudes. Amar é lançar-se ao outro, lançar-se simbolicamente e concretamente. Dar-se. Se não for assim, não passa de um amor narcísico, onde a pessoa aprisiona o amor a si própria. Quem espera o momento certo para demonstrar o amor, corre o risco de perdê-lo.
"Se sou amado,
mais correspondo ao amor.
Se sou esquecido
devo esquecer também.
Pois amor é feito de espelho:
tem que ter reflexo."
Pablo Neruda
Contudo, existe um equilíbrio instável que reside em não se entregar totalmente, ao mesmo tempo em que não se pode deixar de se entregar. O mistério é um outro grande tempero do amor. O desvelamento completo do ser amado é o antídoto para o desinteresse. Poderíamos pensar que seria este um dos grandes problema dos casamentos, onde o convívio diário esgota o mistério e as surpresas, grandes poções mágicas da paixão. Um outro problema que o casamento traz aos amantes, é o compromisso. Amor ama liberdade, necessita de ar e espaço para sobreviver. A rotina paralisa, retira o movimento que impele o desejo. No século XVIII era praxe ambos cônjuges terem seus amantes, uma vez que os casamentos eram baseados em compromissos de ordem financeira e familiar, destino comum para os casamentos atuais também. Agora, a diferença é a hipocrisia que impera dentro das relações.
Não existe um modelo ideal de amor. Amamos como conseguimos e como aprendemos a amar. E vamos aprendendo e desaprendendo ao longo de nossas vidas. A palavra de ordem da nossa contemporaneidade é "ficar". E isto não é amor? Porque não? Se analisarmos o discurso amoroso no decorrer da história, perceberemos grandes modificações nas suas manifestações. Cada época secreta suas próprias utopias e ilusões amorosas. No momento atual existe uma grande diversificação e possibilidades. Qualquer forma de paixão é possível. Não existe fórmula e nem garantias. Apenas o desejo de duas pessoas ficarem juntas e extraírem deste momento o máximo de prazer possível, prazer de uma forma ampla. O amor é invenção. O amor é criação.
ARTE DE AMAR
"Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma. Só em Deus - ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não."
Manuel Bandeira
Fernanda está cada vez melhor no que escreve.
ResponderExcluirFalar sobre o amor todas as pessoas se acham capazes, tanto que, todos se acham em condições de orientar, ensinar um o outro de como proceder no caminho do amor. Todas as pessoas se acham mais que as outras, no entender o amor, mas quem realmente conhece, pela profissão de Psicologa e Terapeuta que é, é a Fernanda, prova está neste belo trabalho, onde ela foi buscar em Isabel Allende e Pablo Neruda as teorias de quem um dia viveu um grande amor, como diria Vinicius de Moraes, mas a sabedoria e o conhecimento mesmo ela colheu em seu divã, ouvindo e conduzindo seus pacientes que buscam nela, um porto seguro para suas inseguranças e medos de perder um amor.
Fernanda Bernd, meu parabéns, continue neste caminho e nós continuaremos teus leitores.
Querido Dirceo
ExcluirObrigada pelas tuas estimulantes e carinhosas palavras! Só discordo quando dizes que eu entendo do assunto... Não entendo mesmo, apenas sou uma eterna curiosa e inconformada com tamanho mistério que é o tal do Amor! Minha idéia é apenas refletirmos e conversarmos a partir de vivências e estudos. Tua parceria aqui no Blog é fundamental e me inspira.
abs
E volto para você apesar do meu orgulho
ResponderExcluirEu volto porque não há outra escolha
Lembrando os dias em outra latitude
Frequentando os lugares onde te via
Recitando os gestos e as palavras que eu perdi
E eu volto para você pelo silêncio que há em mim...
C
A