" The Fighter ", título original do filme de David O. Russel poderia ser apenas mais um filme de boxe, lutas e superação. Mas o foco não me pareceu ser este.
Sem dúvidas, trata-se de um filme de superação, mas não apenas da superação dos prórpios limites. Superação da loucura da família, do peso do fracasso do irmão e também das garras de uma mãe dominadora.
O filme é uma cinebiografia do lutador de boxe Micky "Irish" Ward, interpretado por Mark Wahlberg, sucesso nos ringues nos anos 80. Meio irmão de Dick Ecklund (Christian Bale) ex boxeador que ficou famoso por ter nocauteado Sugar Ray, mas que acabou viciado em crack. e jogou sua carreira fora. Mick passa a carregar a responsabilidade de trazer dinheiro e sucesso à família. Este é o ponto alto do filme. A família.
Família típica americana, suburbana, trash, descendentes de irlandeses, liderada por uma mãe, Alice (Melissa Leo), cinquentona, vulgar, inadequada e intrusiva. Com nove filhos, sendo sete mulheres e dois homens, provenientes de dois casamentos diferentes. A família é o quadro do horror e do fracasso.
É a garçonete Charlene (Amy Adams),sua namorada, quem tenta tirá-lo das garras desta mãe exploradora e do irmão viciado, pseudo-treinador , que mais o atrapalhavam do que ajudavam. Apoiado pelo pai, que apenas dá o ar da graça a partir deste momento do filme, e de um policial da comunidade que passa a treiná-lo, Mick vai em busca de seu crescimento e rompe os laços com a mãe e o irmão.
A família permanece torcendo por Mick e ele também não consegue se desconectar deles, demonstrando até mesmo uma certa fraqueza em alguns momentos. Contudo, o grande lance do filme é a capacidade de Mick ,de se afastar do lado doente da família e se ligar naquilo que eles tinham de saudável, no caso, amor, entusiasmo e até um pouco da técnica do irmão.
Esta foi a maior vitória de Mick e me parece que é um dos nossos maiores desafios. Carregamos sempre nossa família dentro de nós, a parte boa e a nem tão boa.... Numa tentativa de não enlouquecer, muitas vezes precisamos nos afastar. Também é uma forma que encontramos de nos afastar da nossa própria loucura. Não se deixar engolfar por uma mãe tóxica e sobreviver ao ideais esperados pelos pais sem perder a identidade e autonomia, não é para qualquer um... Quem consegue, sem dúvida, é vencedor!
A atuação fenomenal de Christian Bale, que está mais para protagonista do que para coadjuvante, é outro ponto forte do filme. Além das passagens de um documentário, que estava sendo feito pela HBO, sobre a vida de Dick, que ele pensava ser sobre sua carreira, mas nada mais era que sobre seu vício. A atuação de Melissa Leo também está excelente.
Um filme interessante, humano e muito, muito masculino. Não percam meninos!
I started to cry
Nenhum comentário:
Postar um comentário